António de Sampaio e Melo (1952-2018) por Miguel Castelo Branco

Soube agora do falecimento de António de Sampaio e Melo, amigo com quem outrora tive graves desaguisados mas que, não obstante, sempre cultivou uma relação tão próxima quanto possível da urbanidade. Nos tempos mais próximos, antes da penosa doença que nos privou do seu convívio, construímos uma boa amizade reforçada por longas e interessantes conversas sobre temas que finalmente nos harmonizaram, nomeadamente sobre história diplomática, o Oriente e, naturalmente, a questão monárquica.

Filho de Augusto de Mascarenhas Barreto, amicíssimo e também já falecido, Sampaio e Melo foi durante mais de uma década chefe de gabinete do Senhor Dom Duarte, tendo prestado relevantes serviços. Como em quase tudo nesta vida, é pelas coisas que mais amamos que mais teimamos em ofender-nos.

No início dos anos 90, creio que mal aconselhado, o António foi um dos mais duros e persistentes críticos da Nova Monarquia – movimento cujo precoce desaparecimento em pleno florescimento constituiu, como se viu, irreparável dano para o movimento monárquico – pelo que dele partiu a iniciativa de me solicitar a suspensão de actividades da NM. Fi-lo com imensa mágoa, sabendo que um grupo tão dinâmico e com caudal tão grande de militantismo como aquele raramente se pode reconstruir. Mais tarde, já ambos desligados de ânsias militantes, o António pediu-me sinceras desculpas pelo mal que impensadamente havia causado, afirmando-me, num longo almoço que se prolongou por horas, que a Nova Monarquia teria sido, talvez, o partido monárquico com representação parlamentar que o país esperava desde 1910. Fê-lo com o coração nas mãos, pelo que doravante não mais tocámos no tema.

O António era um homem culto e muito leal aos seus princípios, pelo que nesta hora em que de nós se ausenta, só posso lamentar a sua partida e o tempo que não soubemos aproveitar para fazer algo por este país.

 

Há uns anos atrás a Juventude Monárquica Portuguesa teve o privilégio de receber António de Sampayo e Mello para jantar e promover o livro «Monarquia? Em busca de um caminho para Portugal». Esta sua publicação pode ser adquirida aqui.